quarta-feira, 30 de julho de 2008

Realidades...

O primeiro-ministro Sócrates anda todo entretido e orgulhoso a distribuir computadores por esse país fora, por força do seu Plano Tecnológico. Quando em certos lugares desse mesmo país, na realidade, nem água canalizada nem electricidade possuem...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Massagens na praia

"Toda a gente sabe como é que começa uma massagem mas ninguém sabe como é que ela acaba".

Comandante Reis Ágoas - Zona Marítima do Sul

Palavras para quê?

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Silly Season (Momentos de Lazer, Leitura & Prazer)


Deixo aqui uma sugestão séria a José António Saraiva para fazer subir em flecha as vendas do pasquim que dirige: Neste mês e meio que ainda resta de férias de Verão pode oferecer de brinde, (aos leitores que se atrevam a comprar o semanário SOL), um exemplar do-acabadinho-de-ser-lançado, "Maddie: A Verdade da Mentira", de Gonçalo Amaral. Este livro promete rivalizar com o romance de literatura de cordel, "Português Suave", da pseudo-escritora light Margarida Rebelo Pinto, nas férias dos portugueses. Atrevo-me ainda a acrescentar com alguma certeza, que este livro do ex-PJ será um campeão de vendas assim ao nível daquele monstro de edições compulsivas, o livro «de ficção e imaginação» que conta a história duma pura e dura rapariguinha alternadeira, que tanta cambalhota deu, que chegou inclusive a primeira-dama dum clube do norte do país, conhecido como FêCêPê. O fenómeno de sucesso foi tão grande, que lhe permitiu a reforma antecipada de actividades mais frenéticas, tendo declarado, imagine-se(!), que actualmente é escritora de profissão.
(Este post foi igualmente publicado no The Watchdog.)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Der Prozess

Lamento desiludir-vos, mas não vou falar do assunto do dia. Neste preciso instante, dividimo-nos entre os que estão a cair de podres e os que estão a cair de férias. Uma qualidade, dada a nossa natureza profunda, que nem sequer impede a outra.
Pessoalmente, não vou para Praga, embora Praga seja uma cidade maravilhosa, filha de duas esquizofrenias: um tempo áureo, e barroco, e um tempo, crepuscular, que, aliás, partilha com Viena e Bruxelas.
Há um amigo meu que diz, e com imensíssima razão, que Franz Kafka, pertencente à segunda metade de Praga, caso tivesse vivido em Portugal, nunca teria tido tempo para escrever um só livro que fosse, dada a necessidade de tempo inteiro, para deslindar o seu quotidiano... kafkiano. Obviamente, isto é uma "boutade", já que a realidade é bem pior: da minha longa frequência daquela fabulosa História de Portugal, vermelha e conservadora, que o meu pai continua a ter nas suas longas estantes, há dois episódios de que me recordo, e que são, como Borges diria, um só: a imagem de D. Sebastião, à janela do Paço, a pegar-se de insultos com a arraia miúda, que, lá em baixo, no terreiro, atirava pedras uns aos outros, e uma outra, bem posterior, do magnânimo D. João V, o papador de freiras -- a família é para procriar... -- sentado, diante de uma janela, a ver a criançada, em baixo, a atirar pedras... uns aos outros.
Nunca passámos, nesta Mansão do Tédio, de atirar pedras uns aos outros.
Qualquer divertimento acima deste é demasiado subtil para o Genoma Português. Vasco Pulido Valente, em quem só admiro o brilho baço da escrita, geralmente encaracolada em redor de paradoxos, ou seja, fixada na forma, e desprezando quer o conteúdo, quer o leitor, enfim, o narcisismo, enquanto Língua, disse, algures, que nós não gostávamos de Liberdade, mas, sim, de Igualdade.
Já noutro lugar escrevi que a Igualdade Portuguesa é tentar pôr o vizinho do lado a ter tão pouco como nós, e Sócrates e a sua canalha exploraram isto até à exaustão, conduzindo o país ao presente estado de desestruturação social. Qualquer sistema, que ousasse separar o Puro do Impuro, mediante a aplicação de um sistema elementar, mas universal, de leis, seria, para o Português, uma pura violência, porque converteria o justiçado num primoroso acima do amnistiado pelo Tempo.
O Tempo, aliás, é fundamental no psiquismo jurídico português: houve uma era em que apanhar uma multa de trânsito desencadeava o pavloviano reflexo de a atirar para o fundo de uma gaveta, na expectativa de que viesse a amnistia do Natal, da visita da Irmã Lúcia, ou do aniversário da Elsa Raposo.
Uma das vítimas mais célebres da coisa, e isto passava-se nos píncaros da nossa Cultura, enfim, não nos píncaros, mas no topo de uma época morna, como ele próprio confessava, em que não havia grandes mitos que contemplássemos para cima, e falo de Cesariny, Cesariny frequentava um cinema porno em Paris, na época épica, em que os heterossexuais iam fazer o que outrora se fazia nos Banhos Romanos: "profiter" da escuridão, para que os acontecimentos se dessem. O cinema era exótico, e falo de uma Paris que nunca conheci, de há 50 anos atrás, cósmica e surreal, cheia de pequenos episódios do quotidiano... o cinema, dizia eu, tinha dois turnos, o de dia, em que eram as coisas entre homens que imperavam, e o da noite, em que, de quando em vez, as mulheres invadiam a plateia, para participar nesses pequenos satíricons, à la française.
A Escuridão é má conselheira, e embriaga-nos, pelo que, quando o Cesariny se sentou ao pé do garanhão, estava esquecido de que tinha mudado o turno, e tal como o Georges Michael foi apanhado, por um "infiltrado", a fazer uma mamada nos chichis da Califórnia, já 50 anos antes o Mário foi apanhado com a boca no trombone, porque, mal se apilcou ao instrumento, as luzes da sala acenderam-se e ouviu-se a voz "prendam-me este senhor!..."
Ser preso por estar a fazer um broche é uma coisa chata, em qualquer parte do Mundo, desde a nossa A5 até à Casa Branca, mas a verdade é que o Poeta lá seguiu para a sala de tribunal, onde, após a identificação, e se ter visto que era Português, os magistrados imediatamente tentaram ver-se livre dele, porque, para paneleiros, bem bastava a longa tradição francesa...
O Mário, coitado, não se apercebeu de que estava no Sistema Francês, de Raiz Napoleónica, e imbecil, como todos os neoclassicismos jurídicos, que acabam sempre por ser fundamentalismos morais, como o ferreira-leitismo, e acham que vêm introduzir alguma ordem na longuíssima tradição de excessos que é a Natureza Humana. Entre Napoleão, e a sua picha mole, estava uma batelada de leis, chatas e poeirentas, que teriam impedido o irmão do Rei, Duque de Orleães, de ser tratado, não por "Monsieur", mas por "Madame", ou o velho Abade de Choisy de escrever a fabulosa epígrafe das suas "Memórias", a frase mais libertária e espantosa, até Sade, que a mão humana já redigiu:"Cultivei a Natureza nas suas duas encarnações, a Feminina e a Masculina, mas sempre no registo dos seus extremos".
Pôs-se, então, a fazer o que fazia em Portugal, olhar para o relógio, à espera das 17.30 h., que era quando os tribunais tocavam a sineta da Função Pública, e as faces austeras se convertiam nos saloios pais de família, toda a gente se agitava, e era a hora de ir para casa, deixando tudo a meio. "Amanhã há mais", entre duas cervejolas e uma baforada de café.
Paris não funcionava assim, e, por mais argumentos que os advogados de defesa lhe dessem para que lhes tirasse o menino morto das mãos, o velho Cesariny, irreverente, teimoso, e escandaloso, nesses tempos, insistia em ficar calado, e dizer, "não tenho nada a alegar em minha defesa, só estava a chupar este senhor no cinema...", enquanto olhava para o relógio da sala, à espera das promissoras... 17.30 h.
Chegadas as 17.30 h., apanhou, em cima, com uma condenação napoleónica por actos contra a natureza praticados em lugar público, e uma inibição -- porque em França nunca houve... "disso" -- de pisar território sarkoziano durante umas eras.
Aqui, saltamos no tempo: já não é o poeta irreverente, que fora buscar Bréton no seu reduto, mas o homem consagrado, a quem a RTP ia dedicar um documentário, por acaso, orquestrado pela nossa amicíssima comum, Maria Elisa Domingues. Ao chegar à fronteira gaulesa, e ao passar o passaporte na base de dados, disse-lhe o guarda, aliás, disse à comitiva inteira, jornalistas, homens da câmara, convidados... "este senhor não pode entrar..."
Era o Ferreira-Leitismo Napoleónico, incrustrado de décadas, a manter incólume um obsoleto registo.
Abreviando a história, a coisa descambou em conflito, que teve de ser resolvido por via diplomática.
Desde então, a França evoluiu horrores, como diria a Betty Grafstein, e nós ficámos na mesma, aliás, estamos piores, porque já decorreram 50 anos sobre esse ansioso olhar para o relógio, à espera de que as 17.30 h. nos livrassem do pesado fardo da encenação da Justiça.
Hoje, mais uma vez, Portugal inteiro se pôs a olhar para o relógio, e, quando soaram as 17.30. todos pudémos soltar um suspiro de alívio e voltar às nossas pequenas e humilhadas vidinhas: felizmente que aquele caso, tão cheio de odores de cadáver, nunca existira. Real era apenas a plateia mundial, de olhos esbugalhados, a fitar 10 000 000 de ingénuos assobios para o ar...

domingo, 20 de julho de 2008

Diz-me com quem (te metes) andas...


Sócrates anda a tentar atrair investimento estrangeiro para Portugal. Esteve há poucos dias em Angola com Eduardo dos Santos, e neste momento ainda deve estar pela Líbia, junto de Muamar Khadafi.

Acordos, cooperações ou investimentos por vezes são sinónimo de degradação e vulgarização da ética e do princípio. Significam também, criar dependências e que nalguns casos são demonstrativas que não existe um sentido em apostar na produção e na alternativa interna. Em certos casos revelam-se bem mais fatais, certas importações implicam o fim da produção nacional e consequentemente contribui para o aumento da taxa de desemprego... Bem, acho que já estou a dissertar um pouco e a alongar-me para dizer uma coisa muito simples: Considero humilhante e "rasteirinho" que o Governo português mantenha relações de qualquer espécie com governos que são "adoradores da guerra". Que são governos que não respeitam as liberdades dos seus povos e que não privilegiam a democracia. Que são verdadeiros atentados à Humanidade. Pedir favores e criar dependências através de ditadores e de senhores da guerra revela bem (para quem ainda não se tinha apercebido) o baixo nível em que se movimenta e o estado degradante do governo de Sócrates. E o que também é grave e escandaloso nestes relacionamentos, o que me faz sentir vergonha como português, é da nossa parte o reconhecimento indirecto mas automático de legitimidade ou a legalização de certas acções e dos crimes praticados por estes regimes ditatoriais.

Em Portugal, só de férias!


Durão Barroso admitiu há dias numa entrevista que quer recandidatar-se a um segundo mandato como presidente da Comissão Europeia.

Não é nada parvo, este Cherne. Seria péssimo para a sua carreira, um recuo desagradável para constar no currículo imaculado, se ele voltasse para Portugal, ainda por cima para aturar os "portuguesinhos"! É que a cena política por cá é desinteressante e "brega". Para além de ser mal remunerada, muito problemática e farta em casos de corrupção. É tão semelhante à liga de futebol (qual se inspira em qual?), por isso é que há tantos jogadores emigrantes. No Parlamento em Bruxelas, um dos expoentes de Bilderberg, ou uma filial se quisermos, sempre está sobre a alçada e protegido pelo Clube. Não deixará de ser uma tremenda ironia e até anedótico, mas pode ser que ainda voltem a recomendá-lo para Nobel da Paz.

DURÃO BARROSO:

Hoje em dia ocupa o cargo de Presidente da Comissão Europeia.

Participou na reunião de Bilderberg de 1994, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva. Não por acaso, um ano depois estava a candidatar-se à liderança do partido. Perdeu para Fernando Nogueira, mas a sorte acabou por o bafejar, porque Nogueira foi derrotado por Guterres (num ciclo político muito desfavorável ao PSD). Durão ficou como reserva e tornou-se líder social-democrata em 1999, quando Marcelo Rebelo de Sousa saiu. Apesar de ter perdido as legislativas de 99 para Guterres não se deu por vencido, ficando célebre a sua frase "tenho a certeza que serei primeiro-ministro, só não sei é quando." O seu vatícinio acabou por confirmar-se, tornando-se primeiro-ministro em 2002. Em 2003, voltou a estar presente no clube de Bilderberg, na qualidade de primeiro-ministro. Em meados de 2004 era designado presidente da Comissão Europeia. Voltou a participar na reunião deste ano de 2005 de Bilderberg, que teve lugar na Alemanha, na qualidade de presidente da Comissão.

(Fonte: excerto retirado da Wikipédia.)

Ferreira Leite, Cavaco e Biancard Cruz. A Nova Ordem Interna: Ajoelhar e Servir

Imagem do KAOS
Aproveito, antes de mais, para saúdar todos os leitores dos nossos blogues comuns, e publicitar o novo espaço dos "The Braganza Mothers".
O que aí vem, meus amigos, é mau, lúgubre e sinistro.
Várias vezes me interroguei sobre o dia em que deveria cessar a nossa intervenção cívica, e a sociedade, plural e democrática, começar a deixar exercer, por si mesma, a sua dinâmica de acção própria. Infelizmente, Portugal entrou num estado de catalepsia social, que leva a que cada vez mais consideremos afastado o nosso objectivo. A canalha que, desde Durão Barroso, nos governa conseguiu algo de portentoso e extraordinário: fez, como muitas vezes se faz, nos hospitais, colocar o País num coma induzido. Acontece que, agora, por mais safanões que lhe dêem, ele está morto, e próximo da morte cerebral.
Durante os longos e penosos anos do Socratismo, várias vezes me perguntei sobre se seria este o cenário final, o Pior do Pior. Com a entrada de Ferreira Leite em campo, descobri que ainda podia haver um patamar inferior, chamado Eixo Cavaco-Leite, ou Eixo Cavaco-Sócrates-Leite, ou Eixo seguido de um chorrilho de palavrões, se isso vos satisfizer melhor.
Considero Ferreira Leite das coisas mais sinistras que o nosso Espectro Político produziu, só a par com o horrível Proença de Carvalho, e acho que com esta comparação já digo tudo.
Nas últimas semanas, com a inversão na Comunicação Social, que, subitamente, tirando alguns redutos de isenção, como alguns noticiários da RTP2, ou a RTP-Norte (a única que ainda consigo ver), resolveu vingar as espingardas contra Sócrates, começámos a ver o Boneco de Vilar de Maçada muito embaraçado, talvez porque não esperasse que o Patrão de Bilderberg, Balsemão, lhe começasse a tirar o tapete tão cedo. A verdade é que o está descaradamente a fazer, e só para alguém que esteja com a sensibilidade muito avariada é que Manuela Ferreira Leite é alternativa ao que quer que se ja.
O problema português é grave: com o decapitar do 25 de Abril, passámos a ter um país politica, cultural e economicamente acéfalo, com a pequena particularidade -- nós temos sempre uma cereja no topo do bolo, pior do que as inimagináveis... -- sem cabeças culturais, políticas, nem económicas, mas obsecenos pescoços degolados, infestados de piolhos, com os quais somos obrigados a conviver, e que nos atiram, de dia para dia, cada vez mais para trás, no tempo e no espaço.
Quando Ferreira Leite tocou na tecla, obsoleta, da Moralidade dos Costumes, com a célebre história dos casamentos e das segregações (fala disso a mãe, divorciada, de um traficante toxico-dependente, que "a Família é para procriar"...), desde logo me soou uma sineta interior sobre que Manuela Ferreira Leite não era só o que parecia: ela era uma fachada de coisas bem mais lúgubres, que a sustentavam, como já defendi, com unhas e dentes, no Blogue Anti-Cavaco, onde, com todas as energias afrontei Cavaco Silva, e as Forças das Sombras que o apoiavam.
Não me enganava: Cavaco representa, no nosso horizonte, uma regressão, em bruto de 50 anos. Cavaco e Ferreira Leite serão, no seu todo, um século inteiro, a andar para trás.
A cereja no topo do bolo veio hoje, com a revelação -- "I'm sorry, sigilo de fontes... -- de que Biancard Cruz, muito conhecido de outros ambiente, que não posso pôr aqui, mas vocês, se pensarem um pouqinho, lá chegarão..., ia substituir o Júdice na Frente Ribeirinha... Foi só escavar um pouco, e a figura, sinistra, da OPUS DEI, começou a emergir: vinha de trás, o célebre Número Dois de muitas coisas, desde o Guterres ao Sócrates e ao Júdice, para brilhar agora, em toda a sua luz negra.
O resto deste trabalho fica para os jornalistas fazerem: nós não somos jornalistas, somos os opinadores e meditadores de todas as horas, os que levantam os rumores, e apenas esperam que a Sociedade Civil os investigue.
Sr. Sócrates, acabou de lhe sair em sorte uma pequena trégua, a não ser, como corre em certos meios, que o Senhor também esteja próximo da... "Obra", o Senhor e a Bruxa que insiste em manter na Pasta da Educação. Até que se apure a verdade vai ter, todavia, uma pequena trégua. O assunto é agora entre nós, Blogosfera, e a Bruxa do PSD, mais o seu Mandatário para a Juventude... Biancard Cruz (!)
Srª. Manuela, se se tornar claro que as Forças das Trevas que a estão a sustentar, como conseguiram o "misérable miracle" de colocar um defunto empalhado em Belém, acautele-se. Se os seus suportes estão perto da Opus Dei, tome cuidado, que a luta irá ser feroz e os blogueres são como as árvores: morrem de pé.
Sr. Sócrates, ponha-se de lado, porque, agora, o assunto é entre NÓS e ela.

Mr. Wind

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Almada Negreiros - o Manifesto Anti-Dantas

O manifesto não foi apenas contra Dantas. Foi uma reacção contra uma geração tradicionalista, uma sociedade burguesa, um país limitado.

"... Basta PUM Basta!
Uma geração, que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! PIM!
No fim assina: POETA D' ORPHEU, FUTURISTA E TUDO."

terça-feira, 8 de julho de 2008

Espaço à música

Deixo aqui dois regressos que se saúdam com novos trabalhos discográficos. O novo álbum de Tricky, (Knowle West Boy), foi posto ontem à venda em Portugal. Quanto aos The Verve, (Fourth), teremos de esperar mais um pouco. Fica aqui um cheirinho...




Tricky- C´mon Baby



The Verve - Love is Noise

domingo, 6 de julho de 2008

Pequeno contributo para uma grelha hermenêutica, de pendor estruturalista, para uma melhor compreensão dos comentários dos blogues

Imagem do KAOS
É sabido que gosto de pairar nas Estratosferas: é a minha casa, o meu meio e o meu modo de ser. Não trocava nenhum telejornal, a não ser aquele, célebre, e esperado, do Dia do Juízo Final, pelos poucos minutos do "Clair de Lune", da "Suite Bergamasque", de Debussy.
Infelizmente, o quotidiano não é construído sobre essa infinita poética plural da flexão do tempo psicológico, como tão bem o definiram Bergson, e Proust ergueu à categoria de arte infinita, em "À la Recherche". Poderíamos prosseguir pelas citações, e referir aquele lugar comum, que, tantas vezes associamos ao mundo arcaico de Bruckner, esse pietista medieval, que conviveu com comboios, exposições universais, e invenções de Thomas Edison: no diálogo com Deus, o Tempo não existe. Poderíamos ir por onde quisessem, até se nos defrontar a Realidade.
Para nós, Noonautas, Blogonautas, ou Navegadores do Feérico, o cair na Realidade pode ser uma coisa tão elementar como uma mera linha, inserida numa caixa de comentários, depois de um belíssimo texto, de um poema apaixonado, ou de uma dolorosa confissão, em que alguém, a sombra, o objecto errático, o pequeno carrasco do teclado, destroem, com um pontapé despropositado, todo o enlevo da nossa acção.
Como num final de século, todos nós, nos nossos diversos meios, nos tornámos nefelibatas, e esperávamos que este Admirável Mundo Novo, que é o das Virtualidades trouxesse, à flor das águas, o melhor da Natureza Humana, o mito de Rousseau, e não a sátira de Voltaire, por mais que me agrade a segunda, e detrimento do primeiro, do qual a Vida me tornou essencialmente céptico. Mas, como Pangloss, e essa intocável língua viperina do Século das Luzes, que tentou trucidar um dos textos mais belos -- desculpem-me a confissão -- o "Discurso de Metafísica" de Leibniz, em paráfrase, direi que vivemos, com toda a ironia que isso possa conter, na melhor das Virtualidades possíveis, e aqui, eu, voltairiano na escrita, tenho de prestar homenagem ao grande Leibniz.
Nós, refugiados do mundos dos bits, somos, à maneira de Píndaro, a sombra de uma sombra, ou, já que vamos pela Cultura adentro, não passamos da nova memória da Caverna perdida, da alegoria de Platão, com a Caverna a ser aquele Real que tanto nos desiludiu.
Construímos formas, evocamos memórias, tecemos conjecturas e sofremos o refluxo das marés, na forma de comentários, que, num universo idealizado, deveriam ser a correcção, ou a resposta a um repto, em forma de monólogo, que lançámos, na forma erudita do texto. Algures, a meio de uma conversa, desconstruí um dos piores tiques da nossa convivialidade discursiva, que invadiu, em tempos, a atmosfera de todas as nossas conversas. No vazio do Discurso, como no vazio dos comentários, houve um tempo em que era moda inaugurar uma intervenção com um "É assim", como se uma conclusiva pudesse ser socialmente viável, no tempo exacto em que se entabulou um diálogo....
"É assim" é uma das mais pobres expressões emocionais que poderá invadir qualquer debate de ideias, mas é, como muitas vezes pude presenciar, a Lei do Mais Forte, aplicada, através da Violência da Emotividade, à frágil teia da Argumentação.
"É assim" está, para o Espírito, como um bíceps tatuado para uma aparição de Daphné, no momento exacto da Aurora, e as nossas caixas de comentários, repercutindo todos os vícios da Atmosfera, estão cheias de insuportáveis "é assins", onde qualquer argumentação posterior se torna irremediavelmente impossível.
Um guião para uma consulta das caixas de comentários poderia ser uma importante sugestão para quem reflecte, há muito, e a sério, sobre todos os fenómenos da virtualidade. Por ser tão contestado, poderia aqui invocar Paulo Querido, e acho que seria uma boa pessoa para desafiar. Tudo o resto, no meu texto, não é mais do que um breve guião, na forma estruturalista, para ajudar à complexa estrutura dos comentários. Para os especialistas em Teoria da Literatura -- não é o meu caso -- que tenho uma formação científica dura, todos os argumentos, por exemplo, se resumem a um número finito de formas, assim como, numa topologia ensaiada, todos os comentários se reduziriam a um número finito de estruturas. Deformando Anah Arendt, ao substituir o papel tradicional da Realidade, a Noosfera está para a Atmosfera como a Escola para a Família, ou seja, falhadas a Família e a Realidade, a Escola e a Virtualidade são chamadas a assumir papéis que deveriam já estar ajustados a montante.
Posso cair no vício do descrecionismo, embora tentando adoptar uma postura estrutural: se começássemos pelo Behavieurismo, tínhamos o clássico "Comentário-Skinner", aquele que empurra, pelo estímulo positivo, e pune, pelo estímulo negativo. Isto pressuporia uma pedagogia e o esboço de uma didáctica: infelizmente, não traduz, na maioria das vezes, mais do uma das facetas da Maldade Humana, ou fisicamente falando, uma tentativa de introduzir Entropia em Sistemas geralmente próximos do Equilíbrio. Um dos piores desses exemplos é o caixote de lixo em que se converteram as interpelações dos textos de António Balbino Caldeira.
Nisso, Prigogine acaba por ser sarcástico, e, citando, à sua maneira, Poincaré, diz que, colocadas lado a lado, uma caixa cheia de gás, e uma outra vazia, e estabelecida a comunicação entre as duas, pela óbvia Dinâmica dos Fluídos, o gás da primeira tenderia para se escoar para a segunda, mas, sendo esta transferência regida pelos Movimentos Brownianos, uma vez estabelecido o equilíbrio, nada impediria que os gases acumulados na segunda caixa, por uma aleatoriedade do movimento, voltassem, num dado momento, a reunir-se todos na primeira caixa. Friamente questionado sobre o tempo necessário para esse fluxo, Prigogine associa-lhe "mais do que todo o tempo do Tempo(!)"...
Ora, nós, blogonautas da virtualidade fria, dispomos de tudo, menos da totalidade do Tempo. Vivemos mergulhados no Efémero, e não podemos permitir que as brechas abertas numa excelente estrutura por comentários erráticos possam levar todo o tempo do mundo a restabelecer um equilíbrio e harmonia necessários, e evidentes. Torna-se, pois, útil tentar categorizá-los, já que o identificá-los é, também, uma forma de os exocirzarmos.
Já identifiquei, pelo seu carácter óbvio, o estímulo positivo e o negativo. Eles dividem-se, depois, em diversos sub-tipos. Há o comentário exaltado, que leva a que suponhamos que o nosso texto desencadeou revoluções; temos o comentário erudito, que nos leva a crer que nos movemos numa irremediável menoridade literária e intelectual; reconhecemos o grito da maçada, do não-estou-nem-aí, que pressupõe um penar, desse leitor/a até a um tempo ainda mais longo do que o de Prigogine, para que pudéssemos ser... alguém; temos o comentário didáctico, que se solta de um teclado com pretensões e se esgota na mossa emocional que provoca; lemos o comentário da ameaça, que deixa pressupor, quando vamos para a cama, uma multidão de "jack-the-rippers", a perseguir-nos, mal a próxima manhã se levante; há a ofensa cobarde, que tende para semear a desmoralização; há a máxima vexatória, que incide sobre supostas deformidades físicas, intelectuais ou sociais; há o dedo acusatório do sei-tudo-sobre-ti, que mais não pretende do que semear o desânimo e a dúvida; há o comentário obsceno, que nos atirou para uma escatologia enformadora de um civismo da Cauda da Europa; há o intelectual, que nos faz perder, nas suas teias, as hipóteses sensatas, levantadas por um texto simples; há a meia linha erudita, que nos recorda nada termos lido, e a meia linha néscia, que nos faz pensar que lhe faria bem ter lido mais um pouco...; há a conciliadora, que parece vir em auxílio de um cenário de desordem, que a mesma mão pode ter criado, através da adopção de diferentes máscaras; há a agressão pura, nihilista, que deixa antever que não é só texto que deve ser destruído, mas o próprio espaço onde foi publicado, e, mais grave ainda, a própria mão que o escreveu.
Este não é mais do que um esboço de tipologias. Outros o melhorarão, Foi ditado ao sabor da pena e da emoção, na madrugada de 6 de Julho de 2008, com o país em plena agonia cultural e económica do triângulo Sócrates-Cavaco-Ferreira Leite. Nos últimos dias, cultivámos o humor, através dos disparates que nos foram aparecendo nas nossas próprias caixas de comentários. Muitas vezes, a aparente polifonia, não é mais do que a desagregação mental de uma única personagem. Como na Atmosfera, há os que passam dias inteiros a construir, e aqueles que, com uma só linha, um só gesto, ou um só pensamento, tendem para tentar destruir árduas horas de reflexão e trabalho. Devemos ter paciência e não excluir a Piedade. Por vezes, a maldade aparente esconde uma patologia; por vezes, o excesso de barulho, como escreveu um dos muitos fantasmas que, infaustamente, já povoou esta Net sem limites, "Nem tudo o que ostenta, faz alarido, parece, é. Às vezes, o ruído, o "bater de pratos", a indignação, correspondem ao desejo de esconder, de abafar - com muito, muito barulho - algo de absolutamente inaceitável."
É possível que sim, mas isso não nos diz qualquer respeito.
Este texto foi escrito ao sabor da pena, e gostaria de ter sido mais rigoroso na caracterização das tipologias que se comprometeu descrever. Falhou no que propunha. Todavia, como todos os esboços, é um desafio para que todos vocês, leitores, comentadores, e futuros teorizadores das coisas virtuais, o venham a poder melhorar.
Obrigado pela vossa atenção, nesta magnífica -- é, não é?... -- noite de Verão

terça-feira, 1 de julho de 2008

José Mickey Sócrates Guevara



Esta imagem foi roubada ao KAOS, como tantas outras que já lhe roubei para ilustrarem textos que escrevo. Desta vez não vou escrever nada. Apenas gostei da imagem e apeteceu-me publicá-la aqui no blog. Fica também a homenagem, não à figura retratada no boneco, mas ao autor da mesma, excelente pessoa!